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Santa Maria registra o menor número de assassinatos desde 2013

Camila Gonçalves


Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Um dos casos mais chocantes do ano foi o duplo latrocínio em apartamento da Floriano Peixoto

O número de homicídios nos primeiros seis meses deste ano é o mais baixo desde 2013 em Santa Maria. Naquele ano, 19 pessoas foram assassinadas entre janeiro e junho na cidade. Em 2018, 20 pessoas perderam a vida pelas mãos de outra pessoa, sendo duas delas vítimas de latrocínio, o roubo que resulta em morte. No ano passado, na primeira metade do ano, 32 haviam sido mortas. A diminuição representa uma queda de 40%. Não é uma estatística a ser comemorada, afinal, foram 20 mortes, mas, em comparação com cidades como Pelotas, que já registrou 58 assassinatos neste primeiro semestre, Santa Maria teve uma queda significativa nesse tipo de crime.

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Segundo o relatório da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), 35% dos assassinatos estão relacionado ao tráfico de drogas. Outros 35% são motivados por desavenças, rixas ou decorrentes da prática de outros crimes. O restante é referente a um caso de feminicídio, que é a morte de uma mulher pela condição de gênero, a latrocínio e outros motivos.  

Neste ano, já houve 27 prisões de suspeitos e cinco apreensões de adolescentes com algum envolvimento nos assassinatos. Dos 16 casos de homicídio em investigação na Delegacia de Homicídios, envolvendo 18 vítimas, apenas dois não estão elucidados - outros casos estão com a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher e a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Os demais casos já têm suspeitos e motivação esclarecidos. Porém, a Polícia Civil não detalhou quais crimes foram desvendados e quais já têm suspeitos presos.


AS VÍTIMAS DO 1º SEMESTRE DE 2018

14 de janeiro 

Jonathan Aguilar Leocádio, 20 anos
Atingido por golpes de faca no local onde fica a balança do Arenal, na BR-392. Foi para o PA do Patronato e morreu a caminho do Husn
Motivo - Desentendimento após discussão

14 de janeiro

Mauro Antônio Mello, 58 anos
Encontrado morto dentro de casa, no Residencial Zilda Arns, Bairro Diácono João Luiz Pozzobon, Região Centro-Leste, com ferimento de faca na região pélvica
Motivo - Não informado

3 de fevereiro

Bruno Porto Rodrigues, 18 anos
Morto a tiros no Bairro Tomazetti, Região Sul
Motivo - Briga entre vizinhos

3 de fevereiro (morreu no dia seguinte, no Husm) 

Anderson da Silva Sanches, 28 anos
Ele e um amigo foram atingidos por tiros na Rua Verde, Vila Natal, no Bairro Noal, Região Oeste
Motivo - Não informado

5 de fevereiro

Rosicler Terezinha Vieira, 49 anos
Morta pelo marido, Alfredo Machado da Silva, 56 anos. Segundo inquérito remetido pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, ele teria assassinado a esposa a tiro e, após, atirado contra si (ele também morreu) na casa deles, na Rua Doutor David Rubinstein, na Cohab Fernando Ferrari, em Camobi, Região Leste
Motivo - Não informado

15 de fevereiro

Fabiano Gonçalves dos Santos, 35 anos
Ele estava no pátio da casa onde morava, na Rua Ernesto Beck, no Bairro Passo D'Areia, quando foi morto com sete disparos de arma de fogo
Motivo - Não informado

1º de março (duplo homicídio) 

Deidri Baubgarte Vieira Machado, 29 anos
Dois homens vestidos com roupas pretas e toucas ninjas invadiram a casa onde Machado estava, na Quadra 7, Bairro Pinheiro Machado, Região Oeste, e mataram Macharam a tiros
Motivo - Suspeita de execução envolvendo o tráfico de drogas

Diego Tafarel Paula da Fonseca, 30 anos
A dupla que atirou em Deidri Machado foi até um bar próximo da casa onde ocorreu o primeiro crime, no Bairro Pinheiro Machado, Região Oeste, e abordou Diego Tafarel Paula da Fonseca. Os criminosos arrastaram Fonseca para dentro da residência, agrediram-no a coronhadas e o mataram a tiros
Motivo - Suspeita de execução envolvendo o tráfico de drogas

2 de março

Luciano dos Santos Oliveira, 34 anos
Estava sentado com uma jovem de 18 anos na calçada em frente a uma residência, na Rua das Violetas, Bairro Patronato, Região Centro-Oeste, quando três homens desceram de um carro branco e atiraram contra o casal. Um homem ficou dentro do carro. Depois de atirar, eles fugiram no veículo. Forma encontrados estojos de fuzil calibre 5,56 e de pistola 9 milímetros
Motivo - Não informado

3 de março (duplo latrocínio)

Gilberto Mendes, 61 anos
Foi morto a tiros em seu apartamento na Rua Floriano Peixoto, no Centro, quando um atirador invadiu o local e usou uma pistola 9mm para atirar nele, na mulher e em um dos filhos

Gabriel Gonçalves Mendes, 16 anos
Filho de Gilberto, teria acordado com o barulho dos disparos e também foi alvo de tiros. Pai e filho teriam sido baleados na nuca
O autor dos disparos, Diego Anderson Fontoura, 29 anos, também deixou ferida a esposa de Gilberto e mãe de Gabriel, Vera Lúcia Brasil Gonçalves, 56 anos. Antes, ele havia atirado contra Marcelo Tavares Fracari, 37 anos, que estava em frente a um bar, também na Rua Floriano Peixoto. O autor dos disparos foi encontrado, pela polícia, no apartamento da família. Fontoura tinha algumas joias e bijuterias da família nos bolsos. Ele morreu depois de uma parada cardiorrespiratória no Husm, no dia 4 de março, supostamente por overdose
Motivo - Latrocínio (roubo com morte)

17 de março

Jeferson de Andrade Dutra, 32 anos
Foi morto com 5 tiros na Praça Saturnino de Brito, no Centro
Motivo - Não informado

27 de março

Rogerio Rodrigues Pedrollo, 31 anos
Foi morto com 6 tiros na cabeça, em casa, na Rua Rio Pelotas, na Vila Sete de Dezembro, Bairro Nova Santa Marta
Motivo - Não informado

28 de março

Aderlei Lima de Jesus, 24 anos
Foi morto ao chegar em casa com a mulher. A esposa desceu para abriu o portão da garagem, e ele ficou no carro. Um uma dupla encapuzada chegou ao local e atirou na direção do motorista. O crime aconteceu na Rua Leonardo Pascotini, Vila Jóquei Clube, no Bairro Juscelino Kubitschek, Região Oeste
Motivo - Não informado

4 de abril

Ronaldo Soares Rodrigues, 23 anos
Estava na Linha Velha da Fronteira, no Bairro Carolina, Região Norte, quando foi atingido por dois disparos de arma de fogo no rosto
Motivo - Desentendimento

8 de abril

Jeverson da Silveira, 37 anos
Assassinado a tiros durante uma briga na Rua Rui Barbosa, Bairro Carolina, Região Norte. Um suspeito de 33 anos foi preso e encaminhado à Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm)
Motivo - Desentendimento

5 de maio

Márcio Rodrigues, 34 anos
Encontrado sem vida com cortes nas costas, no pescoço e na cabeça, que aparentavam ter sido feitos por um machado, na Vila Santa Brígida, localidade do distrito de Arroio Grande
Motivo - Rixa familiar

9 de junho

João Vitor da Costa Lopes, 18 anos
Estava caminhando com um amigo de 17 anos na Avenida Bechara Abaide, no Bairro Juscelino Kubitschek, Região Oeste, quando o passageiro de uma motocicleta atirou contra ele
Motivo - Não informado

16 de junho

Jean Schalemberger dos Santos, 27 anos
Encontrado morto dentro do Arroio Cadena, no final da Rua Rio Araguaia, no Jóquei Clube, com marcas de tiros na região frontal do corpo
Motivo - Não informado

19 de junho

Lázaro Augusto Fernandes Peres, 8 anos*
Encontrado morto na casa de um amigo de 9 anos, no Bairro Caturrita, Região Norte, com ferimento de tiro no olho
O amigo de 9 anos confessou ter disparado contra Lazaro, acidentalmente, ao mostrar um revólver calibre 32 que era do pai do dono da casa
Motivo - Acidente

*A morte de Lazaro não é considerada crime, porque foi causada por uma criança menor de 12 anos. Devido à inimputabilidade penal dos menores, prevista na Constituição Federal, crianças e adolescentes de até 18 anos não se sujeitam às regras de Direito e Processo Penal. Eles têm regime jurídico próprio previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente

O CARÁTER PREVENTIVO DAS PRISÕES

Para o titular da DPHPP, o delegado Gabriel Zanella, o alto índice de elucidação dos casos e o elevado números de prisões explicam o freio nos assassinatos ocorridos no primeiro semestre em Santa Maria. Além disso, diz o delegado, os pedidos de prisão preventiva ou temporária de suspeitos chegam à mesa dos juízes com fortes indícios de autoria e materialidade. Com isso, embora o recolhimento à cela se dê, muitas vezes, antes da finalização do inquérito, o embasamento do pedido de prisão fornece ao Judiciário provas robustas de envolvimento dos autores e manutenção dessas prisões. 

Como boa parte dos casos é decorrente de rixas e vingança, com mais prisões, há menos chances de outros homicídios acontecerem.

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No terceiro assassinato ocorrido neste ano, por exemplo, um crime acabou levando à outro. Bruno Porto Rodrigues, 18 anos, foi assassinado no dia 3 de fevereiro, no Bairro Tomazetti. O suspeito dos disparos, um professor de dança que não teve o nome divulgado pela Polícia Civil, sustenta que agiu em legítima defesa. Conforme o advogado do suspeito, Christiano Pretto, Bruno teria assaltado o pai do professor. A versão do suspeito é de que ele estava passando pela casa de Bruno, depois que o seu pai foi assaltado, e que foi ameaçado por Bruno e outras duas pessoas, que portavam uma faca e uma arma. Segundo o professor, ele disparou contra Bruno para se defender.

- Está havendo a descoberta de quem matou, de quem foi o mandante, e isso tem um caráter pedagógico e preventivo porque o autor vai para a cadeia. Outro aspecto é que, dificilmente, essa pessoa vai estar na rua daqui há 10 dias. Ela permanece presa, em regra, até o julgamento. Dessa forma, o suspeito não ameaça testemunhas e não interfere nas investigações - analisa o delegado Zanella.

PULSO FIRME

A Brigada Militar credita a queda no número de mortes à retirada de armas de fogo das ruas e à prisão das pessoas que portam armas ou que tenham histórico de participação em crimes do gênero. O comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon), tenente-coronel Erivelto Hernandes Rodrigues, acrescenta ainda a ação da inteligência policial no planejamento estratégico da Brigada Militar. 

Já o coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), Eduardo Pazinato, considera duas hipóteses para a diminuição dos homicídios: a consequência da operação Pulso Firme, que transferiu, em julho do ano passado, 27 líderes de facções criminais gaúchas das penitenciárias do Estado e, também, a consolidação do trabalho de investigação criminal da DPHPP.

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O especialista chama a atenção para as medidas que podem ser tomadas pelos órgãos competentes para cessar a base dos conflitos interpessoais e dos feminicídios. Entre elas, estão a promoção de políticas públicas preventivas, a desconstrução do machismo e da famigerada cultura do estupro e a proteção a públicos vulneráveis, como as mulheres. 

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